Autistas em risco: quando a arte marcial vira cenário de violência
Por Leandro Vieira
Faixa Preta 1º Grau AURUM
Advogado, Prof. de Educação Física e Neuroeducador
Instagram/Youtube: @jiujitsucomproposito

Introdução
Na última semana, uma denúncia chocante foi exibida no programa Fantástico (Rede Globo): uma criança autista foi agredida por um professor de capoeira dentro da escola. O vídeo da agressão circulou nas redes e levantou um debate urgente: quão preparados estão os profissionais de artes marciais para lidar com alunos autistas?

Violência contra autistas nas artes marciais: um alerta necessário
O caso, que veio à tona seis meses após o ocorrido, é mais do que um fato isolado. É reflexo de uma grave lacuna no ensino das artes marciais no Brasil: a falta de formação adequada, protocolos de segurança e ética profissional.
“Meu filho disse que o professor deu uma rasteira, jogou ele no chão e disse: ‘vou te meter a porrada’” – relato da mãe ao Fantástico.
Inclusão ou risco? O que precisa mudar nas academias de lutas

1. Formação obrigatória para professores
Ensinar jiu-jitsu, capoeira ou qualquer arte marcial exige muito mais do que técnica. É preciso preparo para lidar com neurodivergências, especialmente o Transtorno do Espectro Autista (TEA). É fundamental que academias exijam:
- Formação reconhecida e registro profissional;
- Capacitação continuada em autismo, inclusão e segurança infantil;
- Cursos de prevenção a abusos físicos, emocionais e psicológicos.

2. Participação ativa dos pais nas aulas
Famílias devem ter acesso irrestrito às aulas, principalmente quando o aluno é não-verbal. Isso pode incluir:
- Presença nas primeiras aulas;
- Acesso às câmeras de segurança;
- Protocolos claros de denúncia e escuta.
3. Compreensão das necessidades sensoriais
O corpo autista comunica, mas é preciso saber escutar. Nem todo aluno tolera toques ou treinos com contato físico intenso. Professores precisam:
- Realizar entrevistas com a família antes do início das aulas;
- Planejar adaptações específicas;
- Observar sinais verbais e não verbais durante o treino.
4. Triagem ética e avaliação psicológica
Academias precisam assumir sua responsabilidade institucional. Para garantir segurança:
- Exija antecedentes criminais dos instrutores;
- Realize avaliações psicológicas periódicas;
- Adote códigos de conduta claros.
5. Boas práticas de inclusão nas artes marciais
- Tenha monitores treinados para acompanhar alunos com maior necessidade de suporte;
- Crie comissões com autistas adultos e familiares;
- Capacite todos os colaboradores sobre neurodivergência;
- Estabeleça protocolos de emergência adaptados à realidade do TEA.
Conclusão: só há luta verdadeira onde há respeito
As artes marciais podem transformar vidas — inclusive a de pessoas autistas. Mas isso só é possível quando o ensino é feito com ética, cuidado e conhecimento. O caso da agressão não pode ser tratado como exceção, mas como ponto de virada para o setor.
É hora de transformar a dor em mudança.
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